Política e Agro

Novos projetos de produção de fertilizantes são desenvolvidos em Minas

Toda crise é uma oportunidade. Maior importador de fertilizantes do mundo, o Brasil tem sido obrigado a rever essa sua dependência em razão dos impactos da pandemia de Covid-19 e da guerra da Ucrânia, que aumentaram a demanda por alimentos e também por fertilizantes.

Durante a audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (14/6/23) pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindústria,  empresários e representantes do governo estadual mostraram iniciativas que vêm reduzindo a dependência dos produtores mineiros e brasileiros nesta área.

De acordo com números apresentados pelo diretor de Promoção de Exportações da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Marcello Araújo, o Brasil comprou, em 2022, 18% de todo o fertilizante comercializado no mundo. Desse volume importado pelo Brasil, 8% veio para Minas Gerais.

É uma dependência cada vez mais perigosa, segundo ele. Isso porque a produção de fertilizantes é hoje concentrada em poucos países. Alguns deles, como Rússia, China e Estados Unidos, passaram a tratar estes produtos não apenas como mercadoria, mas também como instrumentos de pressão geopolítica, o que gera mais oscilações de preços e imprevisibilidade nos custos da produção agropecuária.

O secretário-adjunto de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, João Ricardo Albanez, apresentou números sobre o que representou esta crise para Minas Gerais. Entre 2021 e 2022, o Estado gastou 73% a mais para adquirir uma quantidade menor de produtos. No primeiro ano, foram U$395 milhões para comprar 3,87 milhões de toneladas de fertilizantes. Em 2022, foram U$683 milhões para comprar apenas 3,01 milhões de toneladas.

Ele ressaltou, no entanto, que apesar desta redução na compra de fertilizantes, Minas Gerais e o Brasil conseguiram ampliar sua produção agrícola.

Além disso, esse novo cenário tem estimulado novos investimentos em Minas Gerais. Marcelo Araújo afirmou que, desde 2019, o Estado recebeu R$ 5 bilhões em investimentos no setor, englobando 12 projetos de implementação ou expansão na produção de fertilizantes.

A importância de Minas Gerais nesse nesta área vem do fato de que 70% das reservas de potássio do Brasil estão no Estado, conforme lembrou o analista de sustentabilidade da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Guilherme da Silva Oliveira.

Empresa opera no Estado a maior mina de potássio do Brasil

Um dos principais investimentos é a Verde Agritech, que tem duas unidades instaladas nos municípios de São Gotardo e Matutina, na região do Alto Paranaíba. A empresa opera hoje a maior mina de potássio do Brasil, com mais de 1,4 bilhão de toneladas de minério disponível.

De acordo com o diretor financeiro  da Verde Agritech, Felipe Paolucci, a empresa já tem uma capacidade de produção de 3 milhões de toneladas de fertilizante por ano. No entanto, já há planos para ampliar as atividades em duas fases , primeiro para 23 milhões de toneladas e depois para 50 milhões de toneladas por ano. O mercado nacional desse produto, segundo ele, está hoje em 60 milhões de toneladas.

O presidente da Comissão de Agropecuária, deputado Raul Belém (Cidadania), ofereceu o apoio da Assembleia para resolver alguns dos obstáculos que permanecem para esta expansão. Um deles é a melhoria da infraestrutura rodoviária, incluindo a construção de uma alça que tire o tráfego de carga que hoje passa dentro da cidade de São Gotardo.

O deputado Antônio Carlos Arantes (PL) criticou a morosidade dos órgãos oficiais para a concessão de licenças ambientais para o projeto de expansão da exploração de potássio. “Já melhorou, mas o Estado ainda peca muito nessa área”, criticou ele.

Durante o debate, um contraponto foi feito pelo pesquisador Antônio Marcos Coelho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele cobrou mais iniciativas do Estado para incentivar e coordenar a produção de biofertilizantes. “Pela importância de seu PIB agrícola, Minas Gerais está muito parada nesta área”, ponderou.

Defesa semelhante dos adubos orgânicos foi feita pelo engenheiro agrônomo José Mário Lobo Ferreira, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). “Com a ampliação do uso de adubos orgânicos, podemos não só reduzir nossa dependência externa, mas também melhorar a eficiência de nossa agricultura”, argumentou ele.

Um exemplo concreto de produção de biofertilizantes foi apresentado por uma empresa privada, o Grupo JM Ambiental, em implantação no município de Frutal, no Triângulo Mineiro. O diretor do grupo JM ambiental, João Paulo Mora, disse que ele próprio é produtor agrícola e teve problemas durante a pandemia de Covid-19. “Comprei fertilizante e não sabia se ia receber”, recordou.

Por meio de uma subsidiária, a Belt Adubos Orgânicos, o grupo irá recolher e processar resíduos sólidos produzidos pela população em diversos municípios da região, utilizando os componentes orgânicos para produção de adubo. Com o projeto, a empresa tem a intenção de apresentar soluções que não apenas reduzam a dependência de fertilizantes importados, mas também deem um destino mais racional para o lixo que produzimos.

 

Fonte: ALMG


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