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Leite Queijo

Mercado do LEITE: preço pago ao produtor no final de 2021 e início de 2022, e impacto das chuvas

Mercado do LEITE: preço pago ao produtor no final de 2021 e início de 2022, e impacto das chuvas

Francys de Oliveira conversou com Valdir Rodrigues, presidente da COOPERVAP, sobre o preço do leite neste início de 2022 e o impacto das chuvas no setor. Ele iniciou falando como foi a entrega feita no mês de dezembro de 2021 e paga aos produtores no último dia 15 de janeiro.

Para o mineiro, todo dia é dia de queijo. Porém, mundialmente, a data é celebrada em 20/1. De qualquer modo, motivos para comemorar, com café coado na hora, doce de leite, ou um bom vinho produzido em Minas, especialmente na safra de inverno, não faltam.

Minas Gerais tem a maior bacia leiteira do país, com produção, em 2020, de 9,7 bilhões de litros, segundo o IBGE. O volume corresponde a 27% do total nacional, com 25,5 bilhões de litros, e registrou um crescimento de 2,6% com relação a 2019. Para se ter ideia de como a produtividade mineira é significativa, a quantidade de leite produzido em Minas é superior à destinada à fabricação de queijos em todo o país, de 8,7 bilhões de litros.

Além de 30 mil produtores rurais mineiros, elaborando 85 mil toneladas de queijos artesanais por ano, conforme estimado pela Emater-MG, os produtos lácteos industriais são de grande relevância econômica. O Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg) contabiliza 156 associados em todas as regiões de Minas. De acordo com o levantamento do Sindicato, essas indústrias processam 85% do leite inspecionado no estado.

As estimativas do Silemg apontam ainda 216 mil fazendas produtoras de leite em Minas e um milhão de empregos gerados por toda a cadeia leiteira. Do volume de 1,2 milhão de toneladas de queijo produzidas no Brasil, em 2020, cerca de 40% do total tem Minas Gerais como origem. As exportações brasileiras do produto, no mesmo ano, alcançaram a receita de 76 milhões de dólares.

A secretária de Agricultura, Ana Valentini, destaca as perspectivas de um cenário ainda mais promissor para o setor a curto e médio prazo. “Temos programas de melhoramento genético de rebanhos, de recuperação de pastagens e de valorização dos queijos artesanais. Também é importante lembrar as pesquisas na área de laticínios com o nosso Instituto Cândido Tostes, vinculado à Epamig. Com isso, a expectativa é de que a produção de leite e derivados cresça muito no estado durante os próximos anos”, explica.

Cautela é a recomendação dos especialistas da Embrapa Gado de Leite (MG) para o setor lácteo no ano que se inicia. Fatores decorrentes da pandemia, como desemprego, redução de renda e o endividamento das famílias brasileiras, continuarão impactando o setor em 2022, levando-o a se adaptar a custos de produção ainda mais altos. Mas se, por um lado, as análises conjunturais sugerem que 2022 não será muito diferente de 2021, projeções apontam um cenário positivo para a próxima década, com um crescimento esperado de 36%, impulsionado pelo aumento da população mundial e pela elevação do poder aquisitivo nos países da Ásia, África e América Latina.

Na última reunião de conjuntura de 2021, a equipe do Centro de Inteligência do Leite apresentou números que sugerem atenção por parte dos agentes produtivos. Para o analista José Luiz Bellini, o esperado fim da pandemia não se concretizou, mantendo as incertezas na economia mundial. “Nos dois últimos anos, praticamente todas as cadeias mundiais de produção e suprimento sofreram com a elevação dos custos e problemas de abastecimento, provocando inflação generalizada”, argumenta. Segundo Bellini, embora tenha havido avanços substanciais no combate ao vírus, persistem incertezas que impactam a produção de bens e serviços com repercussão ao longo das cadeias produtivas. As ações de estímulo dos governos das principais economias mundiais para alavancar o crescimento econômico afetado pela Pandemia, também geraram processo inflacionário global.

Se em 2020 a cadeia produtiva do leite colheu bons frutos devido ao auxílio emergencial de R$ 600,00, concedido pelo governo federal, o mesmo não aconteceu no ano que se encerrou. O dólar se manteve numa taxa elevada, numa curva de ascensão que antecede à pandemia.  Nos últimos três anos o aumento da taxa cambial chega a 44%. Esse foi um dos fundamentos econômicos que elevou a inflação a dois dígitos, algo que não acontecia desde 1994, contribuindo para que a renda das famílias caísse 20% em relação a 2019.

Outros fatores que prejudicam o consumo, com forte impacto no ano que se inicia, segundo os especialistas do Centro de Inteligência do Leite são o elevado desemprego (12,6%) e a taxa de endividamento das famílias brasileiras (67%). Fechando o cenário macroeconômico, a taxa Selic, regulada pelo Banco Central para conter a inflação, chegou ao seu maior nível desde 2017 (9,25%), encarecendo os investimentos e o crédito e, com isso, inibindo o consumo.

O aumento nos custos de produção de leite foi um dos piores agravantes na atual crise do setor. O índice de custo de produção, calculado pela Embrapa Gado de Leite (ICPLeite) já vinha de uma elevação de 10,7% em 2020 e atingiu 30% em 2021, reduzindo a margem de lucro dos produtores. Segundo o pesquisador da Embrapa, Samuel Oliveira, o que mais impactou esse índice foi a alimentação do rebanho. A produção e compra de volumosos teve um aumento de 75%, a alimentação concentrada, 26% e o sal mineral, 53%.

Os outros fatores que pesaram nos custos foram a alta da energia elétrica e a dos combustíveis, com elevação de 27% em 12 meses, lembrando que o preço do petróleo também impacta o preço dos fertilizantes. O pesquisador explica que a valorização das commodities está na raiz desses aumentos. O preço da soja e do milho, presentes na formulação da ração concentrada, por exemplo, encontram-se numa curva ascendente há cinco anos, disparando nos anos de pandemia.

Segundo análises da Embrapa Gado de Leite, custos mais elevados de produção e a redução de preços reais recebidos pelos produtores da ordem de 5% em 2021, impactaram negativamente as margens de lucro. Em 2020, o preço real líquido do leite pago ao produtor fechou o ano em R$2,44. Já em dezembro do ano passado, o valor ficou em R$2,13.  No mercado spot (compra de leite entre laticínios) o recuo foi ainda maior: dados de dezembro do ano passado, em Minas Gerais, apontavam um preço médio de R$2,08. Na entressafra daquele ano, o leite no mercado spot mineiro atingiu o pico de R$2,78.

 

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