A CNA divulgou informações com base num mapeamento abrangente e minucioso sobre a situação deficitária dos produtores de grãos no Brasil, apontando com mais exatidão e clareza o que estudiosos do setor já vinham constatando: em 61% dos casos, eles não dispõem da estrutura adequada para armazenagem. Na logística do agronegócio, isso significa que muitos precisam vender suas colheitas de imediato, perdendo a chance de aguardar pela melhor cotação, além de não poderem investir em atividades de beneficiamento.
A pesquisa, feita pela Esalq-Log (USP) sob encomenda da CNA, avaliou entrevistas feitas com mais de mil produtores. Apenas 39% disseram possuir algum tipo de estrutura para armazenar os grãos, sendo que, muitas vezes, são silos menores e inadequados para maiores períodos de estocagem. São os chamados silos-bolsa, que possuem menor custo de implantação, mas oferecem curta durabilidade.
Apenas 19,8% declararam utilizar as modalidades convencionais ou graneleiras que, se não forem atualizadas de acordo com o patamar tecnológico mais recente, também podem diminuir sua eficácia e tornaram-se obsoletos. A isso se soma a necessidade de equipamentos auxiliares que compõem o processo de armazenagem, tais como máquinas adequadas e mecanismos de exaustão, entre outros.
As disparidades e anseios dos produtores
Num país que em 2023 bateu recorde na safra de grãos, com mais de 320 milhões de toneladas segundo a CONAB, tamanha disparidade chama mais ainda a atenção. Isso porque, enquanto a produção cresce em média 12,5 milhões de toneladas a cada ano, a oferta de armazenagem só avança em 4 milhões, no mesmo período. Esse descompasso precisa e pode ser reduzido.
Entre as razões atribuídas pelos produtores ouvidos para não investir mais em armazenagem estão as linhas de crédito e juros pouco atrativos, além do custo elevado de mão de obra qualificada. A distribuição irregular de energia e insegurança nas regiões mais afastadas também são apontadas como obstáculos. Por fim, a má qualidade das estradas desanima os agricultores, que temem perder seu investimento no desperdício causado pela dependência das rodovias, quase todas mal-conservadas. O custo do transporte onera ainda mais a cadeia produtiva.
Nesse sentido, as fazendas com estruturas próprias podem aguardar o momento do frete mais barato, chegando a aumentar a lucratividade de 6% e 11%, de acordo com os proprietários que possuem armazéns. Entre esses, os ganhos aumentaram com as vendas tardias, quando comparados com a época da colheita. Escapando do pico da safra, é possível diluir os encargos de forma mais planejada, além de evitar os riscos de guardar os grãos a céu aberto. Mas a estratégia de comercialização é o que mais pesa, pois proporciona mais independência e autonomia, além do ganho econômico.
Descompasso entre programas públicos e a realidade
Os ouvidos se queixaram, marcantemente, sobre a falta de contemplação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no tocante à armazenagem. Por outro lado, defendem taxas de juros de 2% a 5% ao ano, prazo de financiamento de 12 a 20 anos e carência do pagamento da amortização de 3 a 5 anos. A linha de crédito para armazenagem do Plano Safra atual, chamada PCA (Plano para Construção e Ampliação de Armazéns), tem taxa de juros de 7% a 8,5%, prazo de até 12 anos e carência de 3 anos.
Por fim, mas não menos importante, cabe ressaltar que chuvas escassas e mal distribuídas, além de altas temperaturas, levaram a CONAB a reduzir a previsão da safra 23/24 para os grãos, após o recorde do ciclo anterior. Isso insta os produtores a aproveitar o máximo de cada tonelada, mas nem sempre há condições.
A SNA tem feito diversas abordagens sobre o assunto, procurando trazer aos leitores a opinião qualificada de autoridades, produtores e estudiosos, a respeito desse gargalo logístico que impede o Brasil de crescer ainda mais. Nesse sentido, reveja recente entrevista concedida ao Portal por pesquisadores da EMBRAPA SOJA, na qual esclareceram desafios e parâmetros da armazenagem de soja. Confira: https://www.sna.agr.
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