Baculovírus e atrativos alimentares para mariposas se sobressaem enquanto medidas para manejo de lagartas de alta complexidade
Recentemente, um grupo de profissionais de pesquisa agrícola alertou para a necessidade de o campo priorizar medidas apoiadas no uso de bioinsumos e no monitoramento de mariposas, por exemplo, visando a promover o manejo eficaz de lagartas nos principais cultivos do Brasil.
Uma reunião realizada na região Centro-Oeste, envolvendo profissionais e entidades do Brasil e do exterior, trouxe à luz a piora expressiva da pressão de lagartas em todo o Brasil, em áreas onde as espécies Helicoverpa spp, Spodoptera frugiperda e Rachiplusia nu causam danos cada vez mais severos.
O professor doutor Celso Omoto, entomologista da Esalq-USP, especialista em resistência de pragas, lembrou então que entraves mais complexos para controle de lagartas no Brasil tornaram-se ainda mais desafiadores a partir de 2013, com a “invasão” de Helicoverpa armigera. “Foi um alvoroço, não sabíamos manejar a praga, inseticidas químicos não davam bom controle.”
Omoto chamou a atenção para outros fatores que, segundo ele, potencializam pragas no Brasil. “Não temos mais períodos de entressafra, isso é uma loucura. Chegamos a um ponto em que a agricultura pode se tornar insustentável”.
Com a invasão de H. armigera no Brasil, Omoto participou de uma missão à Austrália, para observar de que maneira, naquele país, a praga vinha sendo controlada eficazmente com uso de baculovírus. Pesquisadores australianos trouxeram à luz o que Omoto chama de “mais uma jogada de mestre”.
“Eles aproveitam a tecnologia do algodão transgênico e reduzem químicos no controle de Helicoverpa. Valorizam produtos seletivos a inimigos naturais, caso dos baculovírus. Preservam agentes naturais que controlam pragas não-alvo das biotecnologias, como insetos sugadores. Esta é uma combinação perfeita.”
Pela bagagem que trouxe da Austrália, diz Omoto, “baculovírus têm sido uma importante ferramenta frente ao manejo de lagartas no Brasil. Senão uma ‘bala de prata’, é uma alternativa que funciona integrada a outras táticas”. “Para preservar a biotecnologia, uma recomendação é a de plantar de 10% a 20% em áreas de refúgio, dependendo da cultura. Se essa medida for seguida em soja, milho e algodão, baculovírus se encaixam perfeitamente no controle de todas as lagartas”, reforça.
“Além da exploração em área de refúgio, inseticidas à base de baculovírus podem ser recomendados para o controle de lagartas que não são alvos da biotecnologia, como por exemplo Spodoptera spp. na cultura da soja.”
Sobrevida às moléculas químicas
Biólogo, mestre e doutor em entomologia agrícola, o pesquisador Jacob Crosariol Netto atua no IMA – Instituto Mato-Grossense do Algodão há nove anos, na área de manejo integrado de pragas. Após participar da reunião de Goiânia, ele também ressaltou considerar baculovírus “uma ferramenta fundamental dentro de um programa de manejo integrado de pragas”.
“É seletiva, preserva inimigos naturais. Além disso, tem modo de ação único, diferente dos químicos. Pode ser trabalhada no manejo de resistência, dar sobrevida às moléculas químicas”, salienta Crosariol Netto. “Com a adoção de novas biotecnologias, no futuro próximo deverá aumentar a resistência de lagartas em soja e algodão”, antecipa o pesquisador.
Baculovírus e químicos
Com áreas que somam 2,8 mil hectares nas goianas Silvânia, Vianópolis, Orizônia e Luziânia, o agricultor Cristiano Lutkemeyer, da Agromeyer, cultiva milho, milho-doce, feijão, tomate e ervilha. Ele relata que em sua lavoura de milho-doce (para a indústria), 95% das variedades são convencionais.
Lutkemeyer adianta, ainda, que faz pouco tempo passou a utilizar baculovírus associados a inseticidas químicos. “Começamos numa área pequena (32 hectares) e hoje fazemos isso em toda a área cultivada das fazendas.”
“Eu estava 100% no químico, aumentando a dosagem e a frequência de aplicações”, prossegue o agricultor. “Com a integração dos baculovírus, baixou a dosagem, subiu a performance e o custo caiu. No milho-doce, que tem alta pressão de Spodoptera e Helicoverpa, diminuímos os danos às espigas. Reduzimos com isso o desconto da indústria sobre espigas danificadas, o que significa ganhar de R$ 600 a R$ 800 a mais por hectare plantado”, exemplifica.
“Não tem mais volta, o biológico veio para ficar. A utilização do químico com o biológico mostrou ser uma integração de sucesso”, finaliza Lutkemeyer.
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