Retrospectiva – Top 5 Outubro 23 Embrapa desenvolve pesquisa de CAFÉ ROBUSTA para plantio no Cerrado Brasileiro
Publicado em 14/10/2023
Com o objetivo de conhecer os resultados da pesquisa de melhoramento e de adaptação de cafeeiros da espécie Coffea Canephora às condições do Cerrado, foi realizada, no último dia 03 de outubro de 2023, uma visita técnica aos campos experimentais da Embrapa Cerrados, em Planaltina – DF, por um grupo composto por 16 profissionais ligados ao setor agrícola do estado de Minas Gerais, sobretudo das sub-regiões do Noroeste e do Centro-oeste de Minas, e do Alto Parnaíba. A visita foi solicitada pelo presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, que liderou a comitiva.
O Paracatu Rural participou dessa visita e trouxe os detalhes para você.
Estiveram presentes produtores rurais, um industrial do café, representantes do Sebrae, da cooperativa de Crédito Sicoob Credigerais, das Faculdades Integradas Upis, do Jornal Paracatu Rural e do CNC. O grupo foi recebido por Antônio Fernando Guerra, chefe-geral da Embrapa Café, e por Chang Wilches, chefe-geral substituto da Embrapa Cerrados.
Esta foi uma segunda etapa de uma incursão que o grupo realiza para avaliação do potencial de inserção do cultivo do café robusta em terras mineiras, segundo reportagem da Embrapa.
A espécie Coffea arabica possui maior extensão de área cultivada, entretanto, em determinadas regiões a espécie Coffea canephora é predominante. Possui menores teores de cafeína, assim como menores teores de sólidos solúveis e sua bebida, geralmente é mais aromática e ácida, porém menos encorpada quando comparada a espécie Coffea canephora. Além disso, essa espécie é unicaule, suas folhas são verdes mais escuro e menores, os frutos são maiores ovalados, com mais mucilagem e mais aderidos as plantas. A temperatura ideal para seu cultivo é em torno de 18 a 22°C.
O Coffea canephora possui maiores teores de cafeína e sólidos solúveis, por isso é mais utilizada para produção de café solúvel. No entanto, menores teores de açúcar são observados nesta espécie. Os seus grãos são muito utilizados em “blends” de cafés. As plantas de café canephora suportam maiores temperaturas, por isso, sua temperatura ideal é em torno de 23 a 26°C.
Neste sentido, também são mais resistentes a pragas e doenças, sendo estas mais rústicas e produtivas em comparação ao arábica, entretanto, esta última possui valor de mercado mais alto que a primeira. A espécie canephora é mais cultivada nos estados do Espírito Santo (ES), Rondônia (RO) e Bahia (BA).
Em locais de temperaturas mais elevadas, como é o caso da Região Amazônica, os frutos amadurecem mais rapidamente. Em Rondônia, essa característica tem trazido certa dificuldade aos produtores durante os processos de colheita e preparo, com prejuízos para a qualidade do produto, haja vista que a maturação dos frutos coincide com o período de maior precipitação. Por esse motivo existe a necessidade de serem selecionadas linhagens de café Arábica que tenham o amadurecimento mais tardio, possibilitando sua colheita e preparo na época da estiagem.
As variedades de Coffea canephora são genericamente conhecidas por “Robusta”, em virtude de as plantas apresentarem de maneira geral, um grande vigor vegetativo. Contudo, pertencem ao grupo canephora as seguintes variedades: ‘Conilon’, ‘Apoatã’, ‘Guarini’, ‘Laurenti’ e ‘Robusta’. Os dois mais produzidos no Brasil são o Conilon e o Robusta.
Há também os híbridos interespecíficos, que são geralmente obtidos pelo cruzamento natural ou artificial de plantas de café arábica com plantas de café robusta. Atualmente, existe um grande número de híbridos interespecíficos de café indicados para cultivo comercial no Brasil. Esses materiais têm a vantagem de serem mais rústicos, mais produtivos, resistentes a diversas raças de ferrugem e apresentarem bebida típica de café arábica. Vamos falar um pouco mais sobre as origens do café conilon e do robusta.
Há também os chamados blends de café, que traduzindo do inglês, são as misturas. Ou seja, blends são combinações planejadas de diversos grãos de café para criar um resultado na xícara do modo como desejar. Pode-se fazer essa mesclagem antes ou depois de torrar o café, mas teremos um tópico só pra isso mais a frente.
A verdade é que, no mercado de cafés, os blends já são feitos há muito tempo, especialmente entre cafés Arábica e Robusta. Isso porque o Arábica é um café com notas mais complexas, mais acidez e doçura, enquanto o Robusta é bem encorpado e rico em cafeína.
A mescla café Robusta + Arábica está presente entre os cafés commodity, uma vez que o Robusta é mais barato. São usados para fazer a maioria dos cafés solúveis, por exemplo.
Há vários tipos de blend de café, dos quais podemos destacar:
- Blend de duas espécies: é o caso entre Arábica e Canephora (Robusta ou Conilon).
- Variedades diferentes: a espécie Arábica possui dezenas variedades, e mesclá-las leva a resultados excelentes. É o caso de blends como Catuaí Vermelho+Mundo Novo, por exemplo.
- Blend entre subvariedades: mescla entre Bourbon Vermelho e Bourbon Amarelo, por exemplo.
- Blend entre outros terroir: usa grãos produzidos em diferentes regiões, ou seja, com distintas condições de solo, clima, irrigação etc. Ex: café das Matas de Minas e Mogiana Paulista.
- Blend entre processos pós-colheita: existem 3 maneiras de tratar os grãos assim que saem da lavoura. Há o processo Natural (deixa os grãos secarem ao sol naturalmente), Cereja Descascado (tira a casca antes de secar) e Lavado (ficam até dois dias de molho e vão para a secagem já sem polpa). Cada processo ressalta certas características na bebida final, como doçura, acidez ou notas florais.
Rondônia ocupa a 5ª colocação no ranking nacional dos Estados produtores de café (IBGE 2023), sendo o segundo maior produtor de café da espécie canephora. De modo geral, a cafeicultura rondoniense caracteriza-se pelo cultivo de pequenas áreas, com baixo nível tecnológico e emprego de mão-de-obra familiar. As lavouras têm baixo rendimento e compõem-se de plantas propagadas por sementes, as quais apresentam alta variabilidade quanto à produção, época de maturação, tipo de fruto e tolerância a pragas e doenças. Diante dessas características é que a produção no estado foi escolhida como base para a ampliação ao cerrado mineiro e a outras regiões do Brasil, de acordo com informações da Embrapa e da Rehagro.
As características que envolvem o solo em Rondônia e a cultura cafeeira em pequenas e médias propriedades foram fatores que chamaram a atenção da Embrapa para a expansão do café robusta para outras regiões do Brasil. De acordo com Antônio Fernando Guerra, chefe-geral da Embrapa Café, o robusta rondoniense, diferentemente daquele desenvolvido por exemplo, no Espírito Santo, é uma espécie híbrida, formada da união robusta e conilon, porém com mais tendências da primeira variedade. Isso fez com que houvesse uma maior resistência ao clima e às pragas, em especial o bicho mineiro, uma das principais pestes ligadas ao conilon. Com isso, pesquisadores da Embrapa recolheram amostras e enviaram para Ouro Preto para análise e desenvolvimento tecnológico do café robusta.
Um ponto destacado por Guerra é que tanto o café robusta quanto o conilon possuem formas de manejo e irrigação bem semelhantes, o que facilitaria a adaptação dos produtores a essa cultura.
Humberto Neiva, membro do Conselho Fiscal e Jonas Gomes, Diretor Financeiro do Sicoob Credigerais destacaram as cooperativas e a presença de pequenos produtores no setor cafeeiro em Rondônia. Na visão deles, o cultivo do café robusta a esse tipo de público, algo que não se vê com tanta frequência nas regiões central e sul do Brasil, expande as alternativas para o setor. Paracatu, por exemplo, ainda se encontra com muitos produtores dependentes exclusivamente do setor leiteiro em um momento pouco atrativo para o ramo, o que torna interessante a possibilidade de uma alternativa viável, como o caso do café robusta.
Lucas Tadeu Ferreira, chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Café, destaca que mais de 80% dos cafeicultores brasileiros são pequenos produtores, e que os mesmos representam cerca de 20% da produção geral. O impacto econômico e social do café no Brasil é bastante chamativo. São ao todo, aproximadamente, 340 mil propriedades cafeeiras que geram mais de 8,5 milhões de empregos.
Um dos pontos de maior cuidado por parte dos produtores é a poda dos cafezais. As variedades dos cafés também demandam tipos de podas distintas. Antônio Guerra explica que o café robusta necessita de apenas uma haste para que haja o desenvolvimento do broto. Além disso, por ter uma estrutura mais firme e um pé mais alto, com poucos movimentos é possível fazer a colheita e de forma ágil, o que pode ajudar o pequeno produtor que dispõe de menos mão de obra.
O café conilon, por sua vez, possui hastes mais flexíveis, e demanda maior delicadeza no momento da colheita. Além disso, os cortes da poda devem ser mais baixos por conta da altura do pé.
O pesquisador da Embrapa Adriano Delly Veiga explicou de forma mais detalhada as diferenças entre os manejos para o café conilon e o arábica. Além disso, ele falou sobre os principais pontos que a pesquisa tem buscado melhorar quanto à manutenção dos cafezais do arábica.
As primeiras mudas de coffea canephora trazidas de Rondônia chegaram ao cerrado mineiro em 2021. Segundo a Embrapa, são cerca de 4 a 5 anos de pesquisas para que todas as situações envolvendo a cultura passem por observações para que a partir disso as recomendações sejam enviadas aos produtores. Por isso se torna importante o apoio de órgãos governamentais e privados no desenvolvimento estrutural das pesquisas. Apenas para exemplificar essa situação, um dos pontos observados pelos pesquisadores é que o café robusta é de difícil produção de mudas. Para isso, será necessário o desenvolvimento de estruturas de viveiro, além de parcerias para a distribuição das mesmas pelo Brasil.
Chama a atenção a sustentabilidade da pesquisa. A Embrapa desenvolveu entre os pés de café um plantio de braquiária que permite devolver ao solo e ao sistema água, fósforo, microrganismos e nutrientes. Há a necessidade apenas de herbicida para controle da braquiária que é, no entanto, compensado por todas as vantagens da planta ao lado dos cafezais. Isso faz da produção cafeeira, um sistema de carbono positivo.
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