Por André Ito, sócio fundador e gestor da MAV Capital
Sempre digo que o surgimento do Fiagro foi uma das melhores notícias para o mercado nos últimos anos. Até porque ele gera oportunidades para os investidores lucrarem junto com empresas do setor mais próspero da economia brasileira, que é o agronegócio. E não só investidores. O próprio agro se beneficia desse tipo de fundo, já que se trata de mais um mecanismo de financiamento da cadeia produtiva. Mecanismo esse que será muito útil para produtores rurais do Sul do País neste momento tão difícil.
O ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul resultou na morte de quase 50 pessoas, alagou residências, fábricas e, nesta esteira de destruição, gerou grandes prejuízos ao agronegócio local. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), as perdas na agricultura somam, até o momento, R$ 1,1 bilhão. Na pecuária chega a R$ 81,6 milhões.
Segundo a mesma Emater, o ciclone matou mais de 29 mil animais de criação, entre bovinos de corte e de leite, suínos e aves. Na agricultura, a perda foi maior nos cultivos de grãos, principalmente milho e trigo. O número de produtores afetados ultrapassa 1,6 mil. Estima-se que 327,5 mil litros de leite não foram coletados. E para quem pensa que o prejuízo se limita ao momento da tragédia, vale a informação de que os efeitos da tormenta ainda devem perdurar. Como 1.880 hectares de pastagens foram atingidos, alimentar os animais que sobreviveram não será tarefa fácil.
Lavouras de hortaliças, uva, fumo e laranja também sofreram perdas, e parte da infraestrutura foi destruída. Uma quantidade enorme de galpões, armazéns, silos, estufas, chiqueiros, aviários, entre outros equipamentos foram destruídos. Todo esse prejuízo não afeta apenas os produtores rurais. A cadeia toda perde.
É quando vem aquela pergunta: será que o Governo tem recursos para ajudar a todos? Será que os meios tradicionais de financiamento têm capacidade de emprestar dinheiro a custos acessíveis? Mesmo que parte dos produtores conte com seguros, o dinheiro das indenizações ajuda na reconstrução, mas não é o suficiente para reiniciar a produção.
Considerando esse cenário, podemos afirmar que o Fiagro não é apenas uma das melhores notícias como também foi criado na hora certa. O ciclone que tanta destruição causou não é um evento comum. Ele é fruto das mudanças climáticas. Pior, qualquer Estado brasileiro e qualquer país do mundo está sujeito a situações extremas como esta. E até nesse ponto o Fiagro pode dar sua contribuição para mitigar danos ambientais. É sabido que várias cidades rio-grandenses terão sua geografia alterada. Muito do que será reconstruído mudará de local, pois não há confiança de refazer tudo no mesmo lugar, devido à vulnerabilidade.
E já que haverá mudanças, podemos fazê-las dentro dos conceitos da sustentabilidade. Não se trata apenas de mudar o endereço do empreendimento, mas de refazê-lo visando a mitigação dos impactos ambientais. E o Fiagro, junto com outras formas de crédito, pode ser protagonista nesta mudança, que não é só física, mas de gestão e de métodos de produção dentro do modelo ESG.
Desta forma, gera-se novas oportunidades para quem perdeu tudo, mas também para a cadeia produtiva como um todo e para os investidores, que terão retornos ao colocarem parte do capital em fundos focados na recuperação e no desenvolvimento. Pensando nisso, a ideia da CVM de criar uma regulamentação que viabilize Fiagros que abrangem investimentos em créditos de carbono do mercado voluntário, é mais que acertada. E o momento parece adequado para colocar o plano em prática.
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